sábado, 23 de junho de 2012



É muito fácil dizer que a Rio+20 foi um fracasso. Basta analisar o texto final das negociações oficiais travadas pelos governos no Riocentro e avaliar se houve avanço. Não havendo, declara-se o fiasco. É uma avaliação correta, mas limitada de um evento que foi muito mais amplo do que uma busca de acordos ou documentos oficiais. Não dá para afirmar que o texto final assinado pelos representantes do países foi uma decepção ou que ficou aquém das expectativas. Essas expectativas já eram baixas. Os desafios presentes muito antes de o início da Rio+20 dá deixavam claro que não havia muita margem para avanço oficial. Mas felizmente o progresso rumo a uma economia verde depende cada vez menos dos governos.
Um passeio pelas centenas de eventos paralelos à reunião oficial no Riocentro mostrava um quadro encorajador. Foi o maior encontro de empresas, ONGs e representantes de governos federais, estaduais e municipais rumo ao desenvolvimento sustentável. Eles tinham boas histórias para contar e ótimos acordos para travar.
Grandes instituições financeiras globais como o Bank of America e o Asian Development Bank discutiam como financiar investimentos em energia limpa e eficiência energética. “Precisamos começar de baixo, com as fábricas e companhias: trabalhar com elas e aí fazer os negociadores andarem para frente”, afirmou Ole Andreas Lindeman, diplomata do Ministério de Relações Exteriores da Noruega, em uma apresentação com empresários dos setores bancário e de energia. “Aliás, aqui é bem mais divertido do que a mesa de negociações. A sociedade hoje vai na frente. Os governos seguem”, disse. Até porque, nas democracias, os governos não são nada mais do que agências a serviço dos cidadãos.
Em uma das grandes salas do Riocentro, o Cebeds, entidade de reúne as maiores empresas do Brasil, lançou um relatório com a visão estratégica conjunta das companhias para os próximos anos. Lista tudo que os ambientalistas diziam no passado, como fim do desmatamento, aumento nas energias limpas, substituição de materiais, reciclagem etc. As entidades que regulam os balanços financeiros das empresas debateram como incluir o capital natural na contabilidade. Nem dá para dizer que os governos estão parados. O grupo C-40, que com prefeitos de algumas das maiores metrópoles do mundo, responsáveis por 14% das emissões de gases de efeito estufa, anunciou a meta de reduzir 1 bilhão de toneladas de poluentes.
“As negociações oficiais não são uma panacéia”, disse o príncipe Albert II, de Mônaco, no Fórum de Sustentabilidade Corporativa, que durou 4 dias e reuniu centenas de líderes globais, entre empresários, ministros e presidentes. “Os governos precisam de apoio de um grupo de outras forças para mudar nossa economia.” E esse grupo está andando bem rápido. “Não podemos esperar por acordos globais para nos guiar”, afirmou Mark Kenber, diretor do Climate Group, uma iniciativa global sediada no Reino Unido para incentivar a transição das empresas para uma produção sem emissões de efeito estufa. “A liderança agora vem de empreendedores e de grandes empresas”, afirmou. O grupo, inspirado pelo ex-primeiro ministro britânico Tony Blair, conta com presidentes de empresas como a Philips, governadores como da província canadense de Quebec e instituições como o Banco Mundial.
Bandeiras que há décadas eram agitadas apenas por pesquisadores e ativistas mais ousados agora entraram na linguagem consensual. Há 20 anos, na Rio 92, pensadores como Chris Flavin, do Worldwatch Institute propunham acabar com os subsídios para os combustíveis fósseis e eram desdenhados por empresas e governos. Durante a Rio+20, enquanto os ativistas estendiam faixa em Copacabana pedindo o fim do apoio à energia suja, a mesma proposta rolava em mesas de discussão promovidas pelo Fundo Monetário Internacional (o antigo terror dos ativistas).
Durante a Rio+20, o que se viu foi uma convergência de visões que superou as expectativas. A necessidade de se adequar os limites naturais já é aceita como uma realidade. Enfrentar as mudanças climáticas é uma premissa básica. Se a Rio 92 foi um grande encontro para conscientização e alerta, a Rio+20 foi uma convenção para combinar os caminhos a seguir.
(Alexandre Mansur)

Declaração final da Rio+20: 53 páginas de boas intenções e objetivos


A declaração final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), submetida nesta sexta-feira à ratificação de chefes de Estado e de governo das Nações Unidas, é um texto de 53 páginas, com boas intenções e o lançamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

O texto reafirma os princípios processados durante conferências e cúpulas anteriores e insiste na necessidade "de acelerar os esforços" para empregar os compromissos anteriores, homenageando as comunidades locais, que "fizeram esforços e progressos".
- "Políticas de economia verde" (3 páginas e meia do texto): "Uma das ferramentas importantes" para avançar rumo ao desenvolvimento sustentável. Elas não devem "impor regras rígidas", mas "respeitar a soberania nacional de cada país", sem constituir "um meio de discriminação", nem "uma restrição disfarçada ao comércio internacional". Eles devem, também, "contribuir para diminuir as diferenças tecnológicas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento". "Cada país pode escolher uma abordagem apropriada".
- Governança mundial do desenvolvimento sustentável: o texto decide "reforçar o quadro institucional". A comissão de desenvolvimento sustentável, totalmente ineficaz, é substituída por um "fórum intergovernamental de alto nível". O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnuma) terá seu papel reforçado e valorizado como "autoridade global e na liderança da questão ambiental", com os recursos "assegurados" (os depósitos atualmente são voluntários) e uma representação de todos os membros das Nações Unidas (apenas 58 participam atualmente).
- "Quadro de ação": em 25 páginas, correspondentes à metade do documento, o texto propõe setores onde haja "novas oportunidades" e onde a ação seja "urgente", notavelmente devido ao fato de as conferências anteriores terem registrado resultados insuficientes.
Os 25 temas particularmente abordados incluem erradicação da pobreza, segurança alimentar, água, energia, saúde, emprego, oceanos, mudanças climáticas, consumo e produção sustentáveis.
- Objetivos de desenvolvimento sustentável: nos moldes dos Objetivos do Milênio para o desenvolvimento, cujo prazo para cumprimento se encerra em 2015, a cúpula insiste na importância de se estabelecer os "Objetivos do desenvolvimento sustentável" (ODS) "em número limitado, conciso e voltado à ação", aplicáveis a todos os países, mas levando em conta as "circunstâncias nacionais particulares". Um grupo de trabalho de 30 pessoas será criado até a próxima Assembleia Geral da ONU, em setembro, e deverá apresentar suas propostas em 2013 para cumprimento a partir de 2015.
- Os meios de realização do desenvolvimento sustentável: "é extremamente importante reforçar o apoio financeiro de todas as origens, em particular para os países em desenvolvimento". "Os novos parceiros e fontes novas de financiamento podem desempenhar um papel". A declaração insiste na "conjugação de assistência ao desenvolvimento com o investimento privado".
O texto insiste, também, na necessidade de transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento e sobre o "reforço de capacidades" (formação, cooperação, etc).

segunda-feira, 18 de junho de 2012

"VAI DAR 'tilt' NAS CIDADES"


Em plena semana da realização do esperado e grande encontro internacional da sustentabilidade naRio+20, a cidade de São Paulo sediou o Simpósio “Eficiência no Uso de Recursos e Economia Verde: Oportunidades para Edifícios e Cidades Sustentáveis”, organizado pelo CBCS – Conselho Brasileiro da Construção Sustentável, SBCI – Sustainable Buildings and Climate Initiative e pelo Unep – United Nations Environment Programme.
Destaque na abertura do evento, Pavan Sukhdev, economista indiano radicado em Londres e um dos dinamizadores do conceito da Economia Verde, vaticinou: “vai dar tilt nas principais cidades do mundo”. Ele explica que a maioria das decisões econômicas caminha na direção oposta à da sustentabilidade. “Estamos monetizando a natureza só que da pior maneira possível. Por causa da invisibilidade econômica do meio ambiente, nós estamos atribuindo um valor igual a zero à natureza”.
Pavan Sukhdev, consultor indiano de sustentabilidade: empreendimentos atribuem valor igual a zero para a natureza.
No Brasil, um dos piores exemplos dessa lógica de análise é o subsídio que o governo dá ao setor automobilístico para ativar a economia e a contrapartida desconexa do congestionamento dotrafego nas maiores cidades e estradas do país, que gera poluição, desperdício, stress e um grande custo social, recentementeavaliado em 52 bilhões de reais por ano pela prefeitura da  cidade de São Paulo. Qual seria o valor da natureza ofendida nessa conta?
Especialista em medir e avaliar impactos de obras e intervenções na natureza e nas comunidades, Pavan explicou que o desenvolvimento urbano e intervenções privadas nas cidades não podem considerar o meio-ambiente com valor igual a zero em suas planilhas de custo: “não se trata de colocar um preço sobre o valor da natureza, até porque a abelha não passa um recibo quando produz o mel, mas de ampliar a consciência dos agentes econômicos para o valor dos impactos sobre o custo do capital natural e social”, explicou.
Para o setor da construção civil e para o urbanismo das cidades, a mensagem é clara:  dever-se-ia considerar no cálculo dos custos das intervenções não só os investimentos para a obras em si, mas  a análise do ciclo de vida dos produtos e sistemas empregados nas edificações, sejam elas públicas ou privadas, bem como seus efeitos na qualidade de vida da comunidade afetada durante e depois de terminadas.

domingo, 17 de junho de 2012


Ainda há tempo para salvar a Rio+20, diz Marina Silva na Cúpula dos Povos

RIO DE JANEIRO - Segundo a ex-ministra, o sucesso da conferência está nas mãos de todos os líderes do planeta...


foto: Agência Brasilex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva
Ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, fala no encerramento do evento The Rio Climate Challenge Rio Clima, no Forte de Copacabana
RIO DE JANEIRO - A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva disse acreditar que ainda há tempo hábil para um acordo nas negociações, o que vai garantir o sucesso da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Ela participou neste sábado (16) de um ato organizado pelo Comitê em Defesa das Florestas e Desenvolvimento Sustentável contra o Código Florestal, na Cúpula dos Povos, que contou com a presença de diversas lideranças ambientais e representantes do Legislativo.
“O Brasil tem todas as condições de protagonizar um esforço para que façamos uma avaliação verdadeira do que foi feito ou não. Buscar mediar, junto com os demais países, que a crise econômica não pode deixar em segundo plano a crise ambiental. Há tempo, até porque agora a prerrogativa de fazer essa mediação está entregue ao Brasil. É a grande oportunidade de revisitarmos os compromissos e corrigirmos os rumos.”
Segundo Marina Silva, o sucesso da conferência está nas mãos de todos os líderes do planeta, mas o Brasil tem um papel importante."Nós não podemos tirar responsabilidade deles, mas o país anfitrião tem uma responsabilidade maior.”
Perguntada se estava otimista ou pessimista com os rumos da conferência, Marina disse que está persistente. “Cobro que o Brasil continue sendo o país que lidera pelo exemplo. Nós fizemos isso em Copenhague. O Brasil constrangeu os que queriam fazer menos podendo fazer mais quando assumiu metas de redução de dióxido de carbono.”
Sobre o evento que havia participado, contra o Código Florestal aprovado pelo Congresso Nacional e vetado em parte pela presidente Dilma Rousseff, a ex-ministra do governo Lula fez questão de esclarecer que não se tratava de um ato de oposição política.
“Nós não estamos aqui em uma atitude de oposição. É em uma atitude de quem tem posição. E a nossa é que o Brasil não pode perder a chance de continuar avançando na agenda do desenvolvimento sustentável. Não pode mudar sua legislação em nome do lucro imediato, fazendo tábula rasa dos esforços de mais de 30 anos de diferentes governos.”

sexta-feira, 15 de junho de 2012


Não há o que comemorar, diz secretário-geral da Rio 92

Em evento de celebração dos 20 anos da Cúpula do Clima na cidade, Maurice Strong ataca países ricos e diz que conferência decide o "futuro da civilização"

ONU
Para Maurice Strong, mundo está um lugar pior que em 1992
Convidado para a celebração dos 20 anos da Rio 92, o secretário-geral daquela conferência, Maurice Strong, foi uma voz dissonante dos discursos otimistas dos organizadores e da ONU, às vésperas da reunião de alto nível, com os chefes de Estado e Governo. Ele afirmou nesta sexta-feira no Riocentro que "não há o que comemorar", e o mundo está um lugar pior que em 1992.
Para Strong, que foi aplaudido de pé, "há uma grande distância entre a ciência e a política". "Não há muito a celebrar. Eu realmente temo que estejamos mais longe do rumo necessário do que estávamos em 92. As condições gerais se deterioraram, e alguns países continuam a negar os efeitos do clima", afirmou, em seu discurso.
Para ele, "esta é uma conferência sobre o futuro da civilização, e as condições atuais só vão continuar a existir por pouco tempo. As ações humanas estão pondo em risco o futuro da civilização."
Sua fala também foi duas vezes interrompida por aplausos, uma delas quando criticou a política ambiental de seu país-natal, o Canadá. "Não estou de forma alguma satisfeito com o meu país", disse.
Ele também atacou, de forma geral, os países desenvolvidos, que, afirmou, não cumpriram os acordos de transferência de tecnologia, ainda na Rio+20 um dos principais pontos de discórdia entre os blocos ricos e em desenvolvimento.


Rio+20 precisa nos colocar no caminho certo, diz Strong. "As perspectivas de resultados (da Rio+20) devem nos preocupar a todos. Houve enormes falhas na implementação do documento da Rio 92. Cresceu a diferença entre ricos e pobres, mesmo nos países desenvolvidos, o acesso e a transferência de tecnologia não se materializaram. Os países desenvolvidos não entregaram o acordado. É necessário haver formas de cobrança e responsabilização, para que não tenhamos de depender de governos. As pessoas precisam fazer seus líderes responderem por aquilo a que se propõem", disse, e foi aplaudido.

Ao fim de sua fala, longamente aplaudida pelo plenário de delegados, ele disse que "temos de começar uma revolução". "Sou pessimista analiticamente e otimista operacionalmente. Acho que precisamos ser realistas e a Rio+20 tem de nos colocar no caminho certo."

quarta-feira, 13 de junho de 2012




Segundo Brice Lalonde, a Rio+20 é uma oportunidade para considerar o futuro que queremos

A Conferência será realizada no Rio de Janeiro, Brasil, em junho de 2012, vinte anos após a Cúpula da Terra no Rio em 1992.
"A Rio +20 diz respeito aos próximos 20 anos e não apenas os 20 anos que se passaram entre agora e 1992. Precisamos fazer periodicamente um balanço para ver se alcançamos os objetivos determinados pelos nossos chefes de estado, se é necessário revê-los ou criar novos e ver se a solidariedade coletiva e as Nações Unidas continuam a trabalhar bem, além de analisar se o países nesses tempos de crise não estão caindo no perigoso “cada um por si” ", disse Lalonde.
Nessa conferência, os líderes mundiais, os milhares de participantes do setor privado e as ONGs se reunirão para determinar como reduzir a pobreza, como promover a justiça social e como proteger o meio ambiente ao mesmo tempo em que o planeta está se tornando cada vez mais povoado.
"O conceito de sustentabilidade foi publicado em 1987, ou seja, alguns anos antes da Cúpula da Terra no Rio em 1992 pela Comissão das Nações Unidas liderada pelo Dr. Brundtland", lembrou o Sr. Lalonde. "A economia verde é um capítulo do desenvolvimento sustentável, aquele que diz respeito à relação entre economia e ecologia. Precisamos que o desenvolvimento econômico não seja alcançado à custa da natureza, porque os pobres são os que mais dependem da natureza. "
“Os pescadores precisam de peixe e os agricultores precisam de terra fértil”, disse Lalonde. “A natureza é, portanto, um capital, assim como máquinas, fábricas ou o capital financeiro. O capital natural deve ser mantido uma vez que é uma infra-estrutura econômica”.
"Na Rio+20, esperamos cinco a seis resultados diferentes. Espera-se que a declaração, de acordo com a resolução da ONU que criou a conferência, seja um texto concentrado e político. Haverá dois textos: a declaração política e o programa de ação nos anexos ", disse Lalonde.
Para o coordenador da conferência, esta é uma oportunidade histórica para desenvolver idéias que podem trazer um futuro sustentável - um futuro com mais postos de trabalho com fontes de energia limpa, com maior segurança e com um padrão de vida decente para todos. "A Rio +20 será um dos encontros mundiais mais importantes do nosso tempo para o desenvolvimento sustentável ", disse ele.


                        O que é a Rio+20?

Nesta edição especial sobre "desenvolvimento sustentável" vamos tentar esclarecer sobre os objetivos e expectativas da Rio+20, tendo em vista que as negociações para o documento final da Conferência Rio+20 já estão sendo realizadas.
Vinte anos após a Cúpula da Terra, realizada no Rio em 1992, a Rio+ 20 será mais uma oportunidade de refletir sobre o futuro que queremos para o mundo nos próximos vinte anos.
Nessa conferência, líderes mundiais, milhares de participantes do setor privado, ONGs e outros grupos se reunirão para determinar como é possível reduzir a pobreza, promover a justiça social e a proteção do meio ambiente em um planeta que é cada vez mais habitado.
Segundo Brice Lalonde, esta é uma oportunidade histórica para desenvolver idéias que possam promover um futuro sustentável - um futuro com mais postos de trabalho, com fontes de energia limpa, com mais segurança e com um padrão de vida decente para todos. "O Rio+20 é um dos maiores encontros mundiais sobre o desenvolvimento sustentável do nosso tempo", disse Brice.


Baía de GuanabaraA Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, aRio+20, será realizada de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. A Rio+20 é assim conhecida porque marca os vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e deverá contribuir para definir a agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas.

A proposta brasileira de sediar a Rio+20 foi aprovada pela Assembléia-Geral das Nações Unidas, em sua 64ª Sessão, em 2009.

O objetivo da Conferência é a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes.

A Conferência terá dois temas principais:

 
  • A economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e
  • A estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável.
Rio+20 será composta por três momentos. Nos primeiros dias, de 13 a 15 de junho, está prevista a III Reunião do Comitê Preparatório, no qual se reunirão representantes governamentais para negociações dos documentos a serem adotados na Conferência. Em seguida, entre 16  e 19 de junho, serão programados os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável. De 20 a 22 de junho, ocorrerá o Segmento de Alto Nível da Conferência, para o qual é esperada a presença de diversos Chefes de Estado e de Governo dos países-membros das Nações Unidas.

Os preparativos para a Conferência

A Resolução 64/236 da Assembleia-Geral das Nações Unidas determinou a realização da Conferência, seu objetivo e seus temas, além de estabelecer a programação das reuniões do Comitê Preparatório (conhecidas como “PrepComs”). O Comitê vem realizando sessões anuais desde 2010, além de “reuniões intersessionais”, importantes para dar encaminhamento às negociações.
Além das “PrepComs”, diversos países têm realizado “encontros informais” para ampliar as oportunidades de discussão dos temas da Rio+20.

O processo preparatório é conduzido pelo Subsecretário-Geral da ONU para Assuntos Econômicos e Sociais e Secretário-Geral da Conferência, Embaixador Sha Zukang, da China. O Secretariado da Conferência conta ainda com dois Coordenadores-Executivos, a Senhora Elizabeth Thompson, ex-Ministra de Energia e Meio Ambiente de Barbados, e o Senhor Brice Lalonde, ex-Ministro do Meio Ambiente da França. Os preparativos são complementados pela Mesa Diretora da Rio+20, que se reúne com regularidade em Nova York e decide sobre questões relativas à organização do evento. Fazem parte da Mesa Diretora representantes dos cinco grupos regionais da ONU, com a co-presidência do Embaixador Kim Sook, da Coréia do Sul, e do Embaixador John Ashe, de Antígua e Barbuda. O Brasil, na qualidade de país-sede da Conferência, também está representado na Mesa Diretora.
Os Estados-membros, representantes da sociedade civil e organizações internacionais tiveram até o dia 1º de novembro para enviar ao Secretariado da Conferência propostas por escrito. A partir dessas contribuições, o Secretariado preparará um texto-base para a Rio+20, chamado “zero draft” (“minuta zero” em inglês), o qual será negociado em reuniões ao longo do primeiro semestre de 2012.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O Brasil e o futuro da água no mundo





A cidade de Marselha, incrustrada entre as falésias calcárias da Provença e o mar Mediterrâneo, sediou na semana passada a sexta edição do Fórum Mundial da Água. Durante seis dias, 20 mil pessoas, incluindo governantes, cientistas, empresários e ONGs, representando 140 países, se reuniram para discutir os problemas e as soluções para a água no planeta. O Brasil participou com uma delegação recorde, envolvendo os mais diversos setores do governo e da sociedade.
Logo na abertura, feita pelo primeiro ministro da França e pelo presidente do fórum, professor Benedito Braga (USP), um casal de adolescentes tuaregs do Mali fizeram, a convite da organização, um discurso comovente, indicando que as novas gerações não querem soluções para o futuro, mas para hoje. Durante o restante da semana, mais de 300 seções e mesas redondas, envolvendo os mais diferentes temas hídricos, foram realizadas. Além das declarações ministeriais de praxe e das recomendações para a reunião Rio+20, ficaram algumas lições e reflexões, que descrevo brevemente aqui.
A água é um recurso básico, abundante em algumas regiões e escassa em outras, que tem de ser manejada adequadamente para que não ocorram crises ou impactos ao meio ambiente. Entretanto, com o crescimento exponencial da população planetária e um crescimento ainda maior no consumo per capita de água, os mananciais de abastecimento vêm sendo paulatinamente impactados ou esgotados.
Isso não vale apenas para as regiões áridas do mundo, mas também para as úmidas. No caso do Brasil, apesar de determos 12% de toda a água doce do planeta, ela está concentrada na bacia amazônica, e é escassa no semiárido nordestino e em regiões metropolitanas úmidas, como São Paulo e Brasília.
Somado a esse quadro de má distribuição, as potenciais mudanças climáticas, que se avizinham, afetarão exatamente as regiões tropicais áridas e semiáridas, onde já há escassez de água. Para fazer frente a esses impactos, e usando o princípio da precaução, os planos de recursos hídricos devem incorporar os cenários de mudanças climáticas, e a água subterrânea, menos sujeita às flutuações climáticas e à poluição, deve ter seu uso priorizado em situações críticas.
Um dos painéis mais interessantes foi a retrospectiva da gestão da água no oeste americano nos últimos 150 anos. Apesar de ser a região de maior escassez de água nos EUA, ela é a que mais cresce hoje, em função da divisão equânime da água entre os estados e as nações indígenas, e a construção de uma vasta infraestrutura hidráulica, incluindo várias transposições de bacias, recargas artificiais de aquíferos e plantas de reúso de água.
O que poderia ter sido diferente, segundo os americanos? Um maior cuidado no projeto das barragens, permitindo maior movimentação de peixes e flutuação de vazões, imitando os pulsos naturais do rio. Algumas dessas lições têm sido observadas pelo Brasil, particularmente nos novos empreendimentos hidrelétricos da Amazônia, como é o caso da usina de Santo Antônio, no Rio Madeira.
Outro aspecto interessante, discutido no Fórum, é que o recurso água pode e deve ser usado para impulsionar a tão sonhada “economia verde”, que será fortemente debatida na reunião Rio+20. Nesse sentido, a água funciona como vetor de recuperação das matas ciliares e de áreas de recarga das bacias, através do pagamento por serviços ambientais, gerados pelos proprietários, a montante, beneficiando os usuários de água, a jusante. No Brasil, programas como o Produtor de Água, da ANA, são exemplos de que isso é possível e economicamente viável.
Chamaram-me também a atenção as seções sobre a prevenção de tragédias hídricas, como as inundações. Apesar de termos no nosso país a tecnologia e os recursos necessários para evitar perdas humanas e materiais, elas ainda são prevalentes por aqui. Entretanto, se temos uma lei de responsabilidade fiscal eficaz, por que não temos ainda uma lei de responsabilidade hídrica, autuando governantes que, sabendo do perigo da ocupação de áreas de risco, permitem que populações nelas se instalem?
Ao final de uma intensa semana de discussões, chego à conclusão que, para uma gestão sustentável da água, vale ainda o sábio conselho de Confúcio: se planejas para um ano, plante arroz; para dez anos, plante árvores frutíferas; mas se planejas para mil anos, eduque as pessoas.

RAÇÃO DA MORINGA OLEÍFERA PARA ANIMAIS E HUMANOS

RAÇÃO DA MORINGA OLEÍFERA PARA ANIMAIS E HUMANOS