É muito fácil dizer que a Rio+20 foi um fracasso. Basta analisar o texto final das negociações
oficiais travadas pelos governos no Riocentro e avaliar se
houve avanço. Não havendo, declara-se o fiasco. É
uma avaliação correta, mas limitada de um evento que foi muito mais amplo do
que uma busca de acordos ou documentos oficiais. Não dá para afirmar que o
texto final assinado pelos representantes do países foi uma decepção ou que
ficou aquém das expectativas. Essas expectativas já eram
baixas. Os desafios presentes muito antes de
o início da Rio+20 dá deixavam claro que não havia muita margem para avanço
oficial. Mas felizmente o progresso rumo a uma economia verde depende cada vez
menos dos governos.
Um passeio pelas centenas de eventos
paralelos à reunião oficial no Riocentro mostrava um
quadro encorajador. Foi o maior encontro de empresas,
ONGs e representantes de governos federais, estaduais e municipais rumo ao
desenvolvimento sustentável. Eles tinham
boas histórias para contar e ótimos acordos para travar.
Grandes instituições financeiras
globais como o Bank of America e o Asian Development Bank discutiam como
financiar investimentos em energia limpa e eficiência energética. “Precisamos
começar de baixo, com as fábricas e companhias: trabalhar com elas e aí
fazer os negociadores andarem para frente”, afirmou Ole Andreas Lindeman,
diplomata do Ministério de Relações Exteriores da Noruega, em uma apresentação
com empresários dos setores bancário e de energia. “Aliás, aqui é bem mais
divertido do que a mesa de negociações. A sociedade hoje vai na frente. Os
governos seguem”, disse. Até porque, nas democracias, os governos não são nada
mais do que agências a serviço dos cidadãos.
Em uma das grandes salas do Riocentro,
o Cebeds, entidade de reúne as maiores empresas do Brasil, lançou um relatório
com a visão estratégica conjunta das companhias para os próximos anos. Lista
tudo que os ambientalistas diziam no passado, como fim do desmatamento, aumento
nas energias limpas, substituição de materiais, reciclagem etc. As entidades
que regulam os balanços financeiros das empresas debateram como incluir o
capital natural na contabilidade. Nem dá para dizer que os governos estão
parados. O grupo C-40, que com prefeitos de algumas das maiores metrópoles do
mundo, responsáveis por 14% das emissões de gases de efeito estufa, anunciou a
meta de reduzir 1 bilhão de toneladas de poluentes.
“As negociações oficiais não são uma
panacéia”, disse o príncipe Albert II, de Mônaco, no Fórum de Sustentabilidade
Corporativa, que durou 4 dias e reuniu centenas de líderes globais, entre
empresários, ministros e presidentes. “Os governos precisam de apoio de um
grupo de outras forças para mudar nossa economia.” E esse grupo está andando
bem rápido. “Não podemos esperar por acordos globais para nos guiar”, afirmou
Mark Kenber, diretor do Climate Group, uma iniciativa global sediada no Reino
Unido para incentivar a transição das empresas para uma produção sem emissões
de efeito estufa. “A liderança agora vem de empreendedores e de grandes
empresas”, afirmou. O grupo, inspirado pelo ex-primeiro ministro britânico Tony
Blair, conta com presidentes de empresas como a Philips, governadores como da
província canadense de Quebec e instituições como o Banco Mundial.
Bandeiras que há décadas eram agitadas
apenas por pesquisadores e ativistas mais ousados agora entraram na linguagem
consensual. Há 20 anos, na Rio 92, pensadores como Chris Flavin, do Worldwatch
Institute propunham acabar com os subsídios para os combustíveis fósseis e eram
desdenhados por empresas e governos. Durante a Rio+20, enquanto os ativistas
estendiam faixa em Copacabana pedindo o fim do apoio à energia suja, a mesma
proposta rolava em mesas de discussão promovidas pelo Fundo Monetário
Internacional (o antigo terror dos ativistas).
Durante a Rio+20, o que se viu
foi uma
convergência de visões que superou as expectativas. A necessidade de se adequar os limites naturais já é aceita como uma
realidade. Enfrentar as mudanças climáticas é uma premissa básica. Se a Rio 92
foi um grande encontro para conscientização e alerta, a Rio+20 foi uma
convenção para combinar os caminhos a seguir.
(Alexandre Mansur)